UFSM integra estudo inédito que pode mudar políticas de saúde mental nas universidades

Pesquisa vai traçar panorama nacional da saúde mental de estudantes, servidores e professores de 50 universidades públicas.

RENASAM

11/18/20254 min read

Dados inéditos podem influenciar políticas públicas e ações de prevenção. O Estudo Nacional de Saúde Mental nas Universidades (Enasam-U) começa agora em outubro na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), integrando a iniciativa da Rede Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Saúde Mental (ReNaSaM). A pesquisa – que tem como lema “Por uma comunidade acadêmica saudável” – vai envolver 50 universidades públicas de todo o país. Está sendo esperada a participação de 15 mil voluntários entre estudantes, técnicos e professores, com idades entre 18 e 75 anos.

A pesquisa quer entender como a comunidade universitária está se sentindo e quais dificuldades de saúde mental enfrenta. O objetivo é usar essas informações para tornar as instituições de ensino superior lugares mais acolhedores, inclusivos e que ajudem todos a estudar e trabalhar melhor.

“Estamos iniciando o estudo no Sul, respeitando todas as liberações éticas e administrativas. A ideia é que cada universidade tenha representantes das diferentes categorias da comunidade acadêmica, para que o panorama seja realmente representativo”, explica o professor Felipe Schuch, coordenador local da pesquisa na UFSM.

O Enasam-U será realizado em duas etapas: primeiro, os participantes responderão a um questionário online, com cerca de 100 perguntas sobre saúde mental, características sociodemográficas e identificação do sujeito (desde idade, sexo, classe econômica, escolaridade e a frequência com que a pessoa tem se sentido ansiosa ou depressiva). Em seguida, uma amostra de 60 pessoas será convidada para entrevistas diagnósticas realizadas online conduzidas por psicólogos, para complementar a avaliação

“No primeiro momento, irão receber um e-mail (enviado pelo CPD da UFSM) para ver se eles aceitam o convite. Os que responderem que sim, receberão também pelo e-mail institucional a pesquisa enviada pela ReNaSaM”, explica o coordenador.

O objetivo principal do estudo – sigiloso e de participação voluntária – é mapear a prevalência de condições de saúde mental no ambiente universitário, sem buscar associações imediatas com fatores externos ou estilo de vida. Os dados servirão como base científica para o desenvolvimento de políticas públicas, programas de apoio e iniciativas voltadas a uma universidade mais acolhedora e inclusiva.

“É uma pesquisa inédita com essa magnitude no país. Queremos conhecer o cenário com precisão, para que o Ministério da Saúde e as universidades possam direcionar ações eficazes”, acrescenta Schuch.

A primeira fase inicia agora em outubro e deve ser concluída até outubro de 2026. Depois, haverá um acompanhamento de mais um ano para observar as mudanças no cenário ao longo do tempo.

Na região Sul, a UFSM está entre as dez universidades públicas selecionadas para representar a comunidade acadêmica. A compilação dos dados será centralizada na ReNaSaM para garantir confiabilidade e segurança.

“A gente não tem acesso aos dados no primeiro momento. Depois sim, pois o edital que viabilizou a pesquisa tem como objetivo gerar dados para conhecimento técnico-científico. O ministério vai poder conhecer o cenário. Saber onde estão os pontos e as regiões mais sensíveis e, a partir daí, traçar políticas de enfrentamento.”

A ReNaSaM é uma rede de pesquisa lançada em maio de 2024, que reúne 50 pesquisadores de todas as macrorregiões do Brasil e tem como objetivo desenvolver, articular e disseminar conhecimento científico e tecnológico em saúde mental. É coordenada nacionalmente pelo pró-reitor de pesquisa da UFRGS, Flávio Kapczinski, com apoio do CNPq e de pesquisadores da UFRGS e da Fiocruz.

UNILIFE-M acompanha impacto da atividade física na saúde mental de universitários

Enquanto o Enasam-U começa a coletar dados no Brasil, o professor Felipe Schuch coordena outra pesquisa internacional chamada The UNIversity students’ LIFEstyle behaviors and Mental health cohort (UNILIFE-M). Esse estudo já coletou informações em 60 universidades de 28 países e agora os resultados estão sendo organizados.

O objetivo é acompanhar como o estilo de vida e a saúde mental dos estudantes mudam ao longo da graduação e entender como esses fatores se conectam.

“Essa pesquisa tem foco em atividade física, estilo de vida e saúde mental. Diferente do Enasam-U, que é representativo, o do UNILIFE-M acompanha voluntários para analisar associações específicas entre comportamento e bem-estar”, explica o professor Schuch.

No Brasil, cerca de 22 mil estudantes participaram, incluindo aproximadamente 400 da UFSM. A pesquisa faz um acompanhamento anual, avaliando hábitos, atividade física, alimentação e saúde mental. Isso ajuda a entender padrões no mundo e em cada região. A coleta foi realizada em 2023, com calouros de 18 a 35 anos.

“Queremos não apenas mapear, mas também entender quem são os mais vulneráveis ou protegidos e o que influencia a saúde mental no ambiente universitário. É um passo importante para políticas e programas futuros”, afirma Schuch.

Os resultados do UNILIFE-M serão divulgados aos poucos. Alguns artigos científicos já foram enviados para publicação e outros devem ficar prontos em março do próximo ano. Esses dados internacionais podem ajudar a melhorar políticas públicas de saúde e educação.

“Pedimos a participação de todos, tanto na ReNaSaM, que está começando, quanto no do UNILIFE-M, para aqueles que já participaram e vão continuar. O mais importante é mapear claramente o problema e identificar quem são as pessoas mais vulneráveis e como podemos apoiar melhor a comunidade universitária”, conclui o pesquisador.

Mural histórico do artista Juan Amoretti na fachada do Teatro Caixa Preta – Espaço Rozane Cardoso – CAL/UFSM. Foto: Rômulo Tondo