Uerj avança na construção da política de saúde mental; seminário, censo interno e pesquisa nacional são ações iniciais
Uerj inicia participação no Enasam-U pelo fortalecimento da Saúde Mental.
RENASAM
10/15/20254 min read


Visando à construção de uma política de saúde mental permanente, democrática e abrangente, a Uerj vem implementando um conjunto de ações inovadoras e estruturantes dentro da Universidade. As iniciativas incluem a consolidação do Comitê da Política de Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Comaps), a realização de um censo interno para identificar a prevalência de sofrimentos psíquicos entre os estudantes, além da participação no Estudo Nacional de Saúde Mental nas Universidades (ENaSam-U).
Criado e aprovado pelo Conselho Universitário (Consun) em novembro de 2024, o Comaps é o alicerce da nova estratégia em saúde mental da Uerj. O objetivo central é construir, de forma coletiva e participativa, uma política institucional para a Universidade. A professora Claudia Miliauskas, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Uerj, e integrante da coordenação colegiada do Comitê, enfatiza que a proposta é ampla e democrática. “A base da política é participativa. Temos clareza de que não possuímos todo o conhecimento. A ideia é que nos ‘conversatórios’, nos quais a base de construção da política será discutida, toda a comunidade universitária seja convidada”, propõe.
O primeiro desses encontros será o seminário “Cuidado em saúde mental para estudantes: como os CAs podem atuar?”, nesta terça-feira (2/9), das 14h às 16h30, no Centro de Treinamento da SGP, sala 10, 1° andar, campus Maracanã.
A estrutura do Comaps foi desenhada para garantir essa ampla participação. Uma coordenação colegiada, formada por oito pessoas entre docentes e técnicos de diversas áreas da Uerj, nomeadas pela Reitoria, foi encarregada da condução dos trabalhos. Já a comissão executiva é composta por representantes indicados por unidades acadêmicas e setores estratégicos da Universidade, tanto da área da saúde quanto da educação, da comunicação, das artes, entre outras, visando à intersetorialidade e à transversalidade.
Segundo Claudia, a comissão executiva será responsável por pensar a construção e operacionalização da política. Por fim, um conselho consultivo será formado por representantes de discentes, técnicos e docentes escolhidos por meio de processo eletivo vinculado aos centros setoriais, garantindo que as vozes de toda a comunidade sejam ouvidas.
A importância de integrar as ações em saúde mental
A psicóloga Kali Vênus Alves, lotada no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) e na FCM da Uerj, que também integra a coordenação do Comaps, destaca a importância de integrar as ações já existentes na Universidade no âmbito da saúde mental. “Uma das características da Uerj é que tem um monte de coisa acontecendo que muitas vezes ‘não conversam’. A ideia do comitê também é tentar ajudar nessa ‘conversa’”, constata.
Um formulário será enviado a todas as unidades a fim de mapear projetos, grupos de apoio, serviços e ações de extensão relacionados à saúde mental, que serão compilados e disponibilizados para toda a comunidade, como explica a professora Claudia. Além do mapeamento, estão previstos “conversatórios” temáticos abertos a todos para debater assuntos como racismo, machismo e questões de gênero, e sua relação com a saúde mental. “A ideia é que essas discussões façam parte do nosso cotidiano”, completa.
Censo de Saúde Mental Uerj: uma pesquisa detalhada para embasar as ações do Comaps
Para que essa política de saúde mental não seja construída no vazio, será necessário um diagnóstico robusto da realidade da Universidade, segundo Kali. Esse é o papel da pesquisa “Adversidade Social e Saúde Mental em Estudantes de Graduação da Uerj” (ou Censo de Saúde Mental Uerj), financiada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), por meio de edital voltado a Mães Cientistas, que será aplicado no segundo semestre de 2025.
O estudo pretende estimar a prevalência de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático nos quase 24 mil estudantes de graduação de todos os campi. Mas vai além: buscará entender como experiências de violência e discriminação, dentro e fora da Uerj, se relacionam com esses transtornos. “Servirá de base para a construção da política de saúde mental da Universidade toda. Esses dados são fundamentais para entender as características dos alunos e qual é a vivência deles relacionada ao sofrimento psíquico”, avalia Kali.
Além de características sociodemográficas detalhadas como raça, gênero, orientação sexual e identidade de gênero – uma inovação em pesquisas desse tipo –, o questionário online também coletará dados sobre estilos de vida e acesso a serviços de saúde. A expectativa é que, no futuro, censos semelhantes também possam ser realizados com técnicos e docentes.
Pesquisa nacional: a Uerj no panorama do Brasil
Paralelamente ao censo interno, a Uerj integra a pesquisa “Estudo Nacional de Saúde Mental nas Universidades” (ENaSam-U), da Rede Nacional de Saúde Mental (ReNaSam), coordenada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com financiamento do CNPq e apoio do Ministério da Saúde.
Diferentemente do censo interno, a ENaSam-U vai trabalhar com uma amostra probabilística. De acordo com Claudia – a pesquisadora responsável pela ENaSam-U na Uerj –, 50 técnicos, 50 docentes e 50 discentes, escolhidos de forma aleatória, serão convidados a responder um questionário virtual abrangente, que inclui, além do sofrimento por depressão, ansiedade e estresse pós-traumático, transtornos como autismo, esquizofrenia e por uso de substâncias.
“O importante é sair do senso comum de que ‘a universidade adoece’ ou ‘a universidade protege’. Nós ainda não temos esses dados. Essa pesquisa nas universidades vai trazer a possibilidade de comparação, pois, ao mesmo tempo, será realizada uma pesquisa mais ampla na sociedade”, destaca.
Ainda segundo Claudia, o diferencial da ENaSam-U é que, após a aplicação do questionário, os participantes serão contatados para uma entrevista clínica diagnóstica com uma equipe treinada pela UFRGS. “Isso vai conferir maior precisão aos dados. A pesquisa é longitudinal, os mesmos participantes serão acompanhados ao longo do tempo, permitindo analisar a evolução de sua saúde mental”, aponta.
Juntas, essas iniciativas posicionam a Uerj na vanguarda do cuidado em saúde mental no ensino superior. As duas pesquisadoras concordam que a mudança de paradigma é essencial. “Quando falamos de ‘construção de política’, o objetivo são ações muito mais amplas do que uma assistência individual. A saúde mental é infinitamente maior do que somente os serviços de atendimento, que são apenas parte dessa política”, conclui Kali.
Fotos: George Magaraia
Fonte: UERJ.
Professora Claudia Miliauskas e equipe do Censo de Saúde Mental Uerj