#15: Perfeccionismo é doença?

Na classificação de problemas de saúde mental mais utilizada pelos profissionais hoje em dia, o perfeccionismo aparece como um traço de personalidade associado aos comportamentos compulsivos e ao transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo

RENASAM

10/7/20242 min read

Segundo o professor João Paulo Machado de Sousa, não, perfeccionismo não é doença. No Minuto Saúde Mental desta semana, o professor informa que, na psicologia e na psiquiatria, o perfeccionismo é considerado um traço de personalidade, ou seja, um modo de funcionamento da pessoa que irá determinar como ela lida com as demandas da vida cotidiana em geral.

Escute o podcast completo aqui: https://tinyurl.com/podcast-15-sm

“As pessoas que têm este traço como um dos pilares de seu funcionamento costumam apresentar um grau de exigência impossível de ser satisfeito na realização das mais diferentes tarefas. Como é impossível satisfazer essa exigência na maior parte dos casos, o perfeccionista tem suas expectativas frequentemente frustradas, o que pode gerar um nível importante de incômodo e sofrimento que acaba afetando sua relação com o trabalho e com outras pessoas nos diversos ambientes que frequenta, como em casa ou no trabalho, por exemplo.”

Na classificação de problemas de saúde mental mais utilizada pelos profissionais hoje em dia, o DSM-5, o perfeccionismo aparece como um traço de personalidade associado aos comportamentos compulsivos e ao transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo. O transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo não é a mesma coisa que seu parente mais próximo, o transtorno obsessivo-compulsivo (ou TOC), embora a relação entre os dois seja bem estreita. Mas isso é assunto para outra conversa.

Ainda segundo Sousa, apesar de muita gente encarar o perfeccionismo como uma característica positiva ou como um “defeito desejável” a ser mencionado em entrevistas de emprego, o perfeccionismo frequentemente faz com que a pessoa fique mais focada em evitar o fracasso do que atingir o sucesso de maneiras criativas, o que pode dificultar a convivência profissional e o cumprimento de metas e projetos. “Como diz o ditado, o ótimo é inimigo do bom”, afirma.

Para o professor, sendo um traço de personalidade, o perfeccionismo provavelmente está “instalado” na mente do indivíduo desde muito cedo, mas há evidências de que o ambiente também determina sua manifestação, já que pessoas mais jovens parecem apresentar níveis cada vez maiores de perfeccionismo, o que pode estar relacionado à competitividade profissional e a tendências pouco realistas e padrões impossíveis propagados pelas redes sociais.

Minuto Saúde Mental
Apresentação: João Paulo Machado de Sousa
Produção: João Paulo Machado de Sousa e Jaime Hallak
Coprodução e edição: Rádio USP Ribeirão
Coordenação: Rosemeire Talamone
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Translacional, iniciativa CNPq e Fapesp